quinta-feira, agosto 25, 2005

Sem som

Queria saber tocar um instrumento
Pra poder compor um samba
Falando de dor e sofrimento
Que contivesse todo sentimento
Nas notas e harmonias
Que falasse das alegrias
Dos momentos mais queridos
E das tristezas
Dos amigos perdidos
Que dissesse na melodia
A felicidade dos amores
E a solidão dos dias
Perdidos em rancores
Ai , ai, como eu queria
Expressar em tons e notas
Todas as paixões
Que brotam em meu peito
Transformar em canções
Meus desejos e defeitos
Tocar pro mundo inteiro
Em ritmos e levadas
A delícia de amar e viver
Ai, ai, como eu queria saber...

Fútil

Não sou romântica
Não acredito em contos de fadas
Levo a vida tão à sério
Sou tão dura comigo
Tão sensata
Que nem medo de barata
Eu tenho
Ao mesmo tempo
Choro à toa
Vendo seriado
Me derreto com o romance
Da vizinha
Fico olhando a lua
Fazendo simpatia
Pedindo pra também ter
Ao vivo e à cores
Aquela alegria vazia
Aquele brilho no olho
Aquela pele macia
Das atrizes da TV
Quando encontram seus amores

Nobreza

Não dá mais pra fugir
Não dá pra deixar
De enfrentar a besta
A fera, o medo, a desilusão
Não, não dá, não
Não entendo a ausência
De coragem
Não entendo a revolta
Sem nome, sem explicação
Não entendo a falta de vontade
De trabalho, de empenho
De comunicação
Insisto em encarar a realidade
Com aprumo
Insisto na fortaleza
Na certeza do meu rumo
Insisto na dureza do caráter
Na firmeza moral
Insisto em ver e ser visto
Insisto, insisto

Procura

Qual o remédio
O ungüento?
Qual o médico,
O experimento?
Que curandeiro,
Que feitiço?
Que benzedeira,
Que reza?
Filosofia, auto-ajuda,
Jeová, Jesus, Bhuda
Deus, deusa, orixá?
Onde encontro
Onde buscar
Cura pra esse sofrer
Pra essa ferida,
Essa chaga
Exposta, aberta
Machucada
Que insiste em me doer?

Mater

Ser mulher
Ser feminino
Presa da sensibilidade
Fortaleza cruel da vontade
Eterna fonte natural
Jorrando sangue e mel
Esvaindo leite e sal
Guardiã do mistério divino
Senhora do pecado profundo
Dona do segredo
Alma do mundo
Mãe do ingênuo destino
Da humanidade

segunda-feira, agosto 08, 2005

Insônia

Ouço os pássaros da manhã
Os carros subindo a ladeira
Os operários da obra
Chegando pra trabalhar
Eu me deixando ficar
Ali na cama quieta
Sem querer levantar
Sem poder me mexer
As palavras dançando na mente
O pensamento pulando, saltando
E eu sem coragem pra espreguiçar
Atada ao colchão, presa
Embaixo do travesseiro, a mão
A cabeça um grande vespeiro
Um enxame me corroendo
Os olhos cheios de areia
Um deserto, ardendo
Eu parada, tesa
Sem dormir, nem acordar
Ouvindo os pássaros cantar

Velha amizade...

De repente, ao pé da escada
Você na minha frente
Por seus amigos cercada
Me olhava e sorria
Sem me ver completamente
Me disse poucas palavras
Foi seca, fria
Eu saí naquele instante
Sozinha na rua
Me vi chorando ao volante
Pensando naquele encontro
Triste, distante
De repente, madrugada
Por trás das lágrimas
Cruzando a estrada
Morta, vazia
Eu sabia o que tinha feito
A importância, a nobreza
Por você cruzei o rio
Um desafio, com certeza
No fundo do peito,
Eu sentia
Você vai se dar conta, eu sei
Um dia

Eros e Psiquê

A boca busca
Satisfação
O olhar teme
O encontro
A mão desliza
Passeia, tateia
Fome, fome
A boca treme
O desejo, o beijo
O olho foge
Fecha e abre
A mão descobre
E aperta
Confusa, sufoca
A cabeça
Gira, roda
Iludida
Acorda

Não se iluda, meu bem

Eu não enxergo
Nunca enxerguei
Apenas intuo
E temo
Talvez me iluda
A ilusão vem do medo
É esse o segredo?
A ilusão vem da falta de visão
Na verdade eu sei o que quero
Eu sei o que me convém
Eu só não enxergo bem
Talvez agora esteja claro
Eu não preciso de apoio
Eu preciso de óculos