quinta-feira, outubro 06, 2005

Bateria

Este meu coração que toca
Este som que provoca
Este bumbo interno
Batuque constante
Que por um instante
Me dá justificativa
Este tambor desorientado
Eterno repique
Pulsando, batendo
Reverberando aos brados
O sangue que corre
Este grande pandeiro
Que dispara ligeiro
Como que tocado
Por um preto do morro
No carnaval
Pois este meu timbau
Está pedindo socorro

Reino

Orgulho e humildade
Qual o verdadeiro limite
Pensamos ter liberdade
E tememos encarar
As pequenas dificuldades
Tremendo com os desafios
Exageramos nos brios.
Rezamos, rezamos e rezamos
Sem ter certeza da fé
Sem saber a quem enfrentamos
Às vezes fica mais fácil aparecer
Do que esconder
Mas em algum momento
Debaixo de todo despeito
O grande medo
Vai apertar seu peito
E na frente do espelho
Você vai se ver
Do jeito que você é
Nem bonito nem feio
Sem coroa, nem reino

Ambição

Alguns ambicionam a criação e a arte
Outros o êxtase da paixão
O tesão sem fim
Por mim apenas desejo
Acordar e dormir
No frio me aquecer
No calor me refrescar
Sentar em frente ao mar
Olhar as nuvens no céu
Caminhar por entre a gente
Escutar seu burburinho
Comer pão quentinho
Ouvir meu filho gargalhar
Me esticar feito gato
E abraçar o travesseiro
Dar a volta ao mundo numa boa conversa
E ás vezes beber até cair
Botar meu amor pra dormir
No meu colo
Sentar pra escrever e ficar distraída
Sem pensar...
Apenas sentindo a vida

Passagem

Passam os dias
Passam as horas
Sem ter agora
Nem pra onde
Sem demora
Nem pressa
Sem desafios
Nem palavras
Sem ter por quê
Nem pra quê
Apenas medo
E vontade
Confusão e silêncio
Apenas o desejo
Do sagrado
Do imenso
Do insuportável
Tempo